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Guardião da história da imigração alemã, museu vai reabrir as portas para o bicentenário

Guardião da história da imigração alemã, museu vai reabrir as portas para o bicentenário

Peça por peça, a história vai sendo recuperada. No Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, o vaivém das escovas de limpeza e o movimento silencioso dos panos a higienizar objetos contrastam com o ruído das furadeiras. A soma orquestrada de esforços tem como objetivo restaurar parte da memória da imigração alemã, depois de a água encontrar caminhos e danificar anos de doações.

No Centro de São Leopoldo, o prédio é mais um entre os tantos que sofreram com os alagamentos em maio. Porém, no que se refere à preservação de fatos ligados ao passado e presente de milhares de famílias, guarda um espaço único. E em menos de um mês, na simbólica data de 25 de julho, reabrirá as portas e as lembranças. Justamente no dia em que se celebra o bicentenário da imigração alemã no Rio Grande do Sul.

— Vamos retomar do jeito que for possível. Temos 39 voluntários trabalhando na recuperação e já conseguimos resgatar muita coisa. Só eu já limpei 150 peças pequenas. Cédulas antigas também foram restauradas. Estava tudo dentro da água — detalha a diretora de relações institucionais do museu, Ingrid Marxen, mostrando o passo a passo de higienização dos itens históricos.

Estrago

No fatídico dia 3 de maio, a última funcionária saiu do local às 17h30min. As notícias sobre os alagamentos já circulavam e, inclusive, pontes sobre o Rio dos Sinos passavam por bloqueios. Porém, o museu seguia a normalidade das atividades, sem indício aparente da água.

Foi no final de semana que o cenário mudou. A enchente começou a ganhar ruas da cidade, e com força encontrou novos caminhos. Na segunda-feira posterior, 6 de maio, primeiro dia em que se teve novas informações da real situação, veio a surpresa.

— A água acabou chegando a 1,20 metro aqui dentro, no andar térreo, que é onde fica a maioria dos objetos em exposição. A parte de cima, onde guardamos principalmente documentos, não foi atingida. Por sorte, a funcionária decidiu subir para o segundo andar a nossa peça mais antiga – uma Bíblia de 1765, escrita em alemão gótico. Já um piano de 1900, que ainda era usado em apresentações, não teve a mesma sorte — relembra Ingrid.

Celebração solidária para marcar a retomada

A reabertura do museu ocorrerá no dia 25 de julho, a partir das 10h30min. A data será marcada por uma celebração solidária do bicentenário, com o pedido de doação de um quilo de alimento não perecível. Entre as atrações, estão a chegada de cavalarianos de Lomba Grande, Novo Hamburgo, hasteamento de bandeiras e apresentações culturais.

— Eu tenho sugerido que se comemore a memória daqueles que se foram antes de nós, e que com muito esforço lutaram para que se tivesse um Rio Grande do Sul diferente, onde hoje pessoas das mais diversas etnias podem conviver — explica o doutor em Teologia e História Martin Dreher, referência em estudos sobre a imigração alemã.

A partir do dia 26 de julho, o espaço retorna ao horário tradicional de funcionamento: de terças a sábados, das 8h30min às 12h e das 13h30min às 17h. A entrada é franca.

Como foi a chegada dos primeiros imigrantes, há 200 anos

Foi em 25 de julho de 1824 que o Rio Grande do Sul recebeu os primeiros falantes da língua alemã, como define Dreher, já que uma Alemanha unificada só vai surgir a partir de 1871. O desembarque das primeiras 39 pessoas ocorre na Real Feitoria do Linho Cânhamo, atual São Leopoldo.

— E por que eles vêm para cá? Porque o Brasil de 1822, independente, não tem tropas confiáveis e contrata soldados da Europa central para formar os batalhões. Só que, por causa do Congresso de Viena, está proibida essa exportação. Então, dentro do jeitinho brasileiro, se traz famílias de agricultores e artesãos misturadas aos soldados. Os militares ficam no Rio de Janeiro e as famílias vêm formar a chamada colônia alemã de São Leopoldo — descreve o historiador.

A cada 300 metros, na área que abrange Sapucaia do Sul a Picada Café e, do outro lado, de Campo Bom até Portão e Estância Velha, os grupos vão se instalando. É assim que começa a surgir um novo tipo de sociedade no RS. Entre as principais mudanças, estão os produtos trazidos para a agricultura, que originam as casas de comércio, além da implementação da educação formal e das casas de saúde.

— Essas pessoas vão dar início à alfabetização formal do Estado, porque a província mantinha uma única escola a partir dos cofres públicos, que é o Colégio Militar de Porto Alegre. As mulheres, que passam a contratar parteiras, fazem parte do surgimento dos hospitais. Além disso, temos a industrialização, já que 60% dos imigrantes são artesãos. É um novo mundo que se descortina e algumas peças estão preservadas aqui no museu — completa Dreher.

Fonte: Bianca Dilly, Zero Hora

Foto: Mateus Bruxel, Agência RBS



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